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domingo, 18 de agosto de 2013

Poema: Maya


      MAYA





A aparição do espelho é realidade sólida.
A toxina no fígado também é sólida.
Os objetos que caem atrás da estante também são reais e existem.
Aquele vento que sacode a cortina da janela da sala é real.
O delicadíssimo néctar das flores existe.
As substâncias tóxicas lançadas no ar são reais.

A toxina está lá no fígado.
O clipe caiu atrás da estante.
A aparição está no espelho.

O deslizar da urna para dentro da carruagem é apenas um som, mas existe.
A ausência existe e corporifica.
Tudo isso é sólido, solitário e solene, inclusive a aparição.

O que não existe são as recordações.
A percepção do mundo é apenas recordação.
Logo, não existe percepção do mundo.

Para atravessar o espelho, tem que ser Alice, Alice existe.
A aparição do espelho não é apavorante.
Apavorante é a ausência.

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