MAYA
A aparição do espelho é realidade
sólida.
A toxina no fígado também é
sólida.
Os objetos que caem atrás da
estante também são reais e existem.
Aquele vento que sacode a cortina
da janela da sala é real.
O delicadíssimo néctar das flores
existe.
As substâncias tóxicas lançadas
no ar são reais.
A toxina está lá no fígado.
O clipe caiu atrás da estante.
A aparição está no espelho.
O deslizar da urna para dentro da
carruagem é apenas um som, mas existe.
A ausência existe e corporifica.
Tudo isso é sólido, solitário e
solene, inclusive a aparição.
O que não existe são as
recordações.
A percepção do mundo é apenas
recordação.
Logo, não existe percepção do
mundo.
Para atravessar o espelho, tem
que ser Alice, Alice existe.
A aparição do espelho não é
apavorante.
Apavorante é a ausência.