É muito interessante observar as semelhanças de idéias e sentimentos entre músicos e escritores de tempos e contextos muito diferentes. É aí que podemos perceber que a inspiração/criação artística independe de fatores educacionais, ambientais e culturais. É algo que vem mesmo de algum lugar do espírito, lá dos porões do inconsciente ou talvez das mais altas esferas do universo. Alguém pode achar que isso é somente uma mera coincidência. Se for, é muita coincidência.
Em alguns casos pode ser uma homenagem de um artista a outro, isto é outra coisa. Eric Clapton homenageou Elmore James com uma música parecida com outra de Elmore James.
Pode ser influência de um artista em outro, isto é OUTRA coisa. Por exemplo, John Lennon e Michael Jackson foram influenciados por Elvis Presley. Fernando Pessoa foi influenciado por Walt Whitman e Clarice Lispector, por Kafka.
O que estou dizendo é desta "coincidência" de idéias e sentimentos entre artistas completamente distantes no tempo e no espaço. Vamos observar um caso: Manuel Bandeira, poeta brasileiro, nasceu em 19 de abril de 1886 em Recife e morreu em 13 de outubro de 1968. Durante a vida, morou no Rio de Janeiro.Teve influência dos poetas parnasianos e simbolistas do final do século XIX e também dos simbolistas franceses Rimbaud, Baudelaire e Mallarmé. Participou do movimento modernista e das atividades da Semana de Arte Moderna em 1922 aqui em São Paulo.
Led Zeppelin, banda de rock dos anos 70 e 80.
O que é que Manuel Bandeira tem a ver com Led Zeppelin?
Transcrevo abaixo o poema Vou-me embora para Pasárgada de Manuel Bandeira e a tradução da letra de Going to California de Led Zeppelin e respondam vocês mesmos a essa pergunta.
Vou-me embora para Pasárgada
Vou-me embora para Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora para Pasárgada.
Vou-me embora para Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
que Joana, a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
vem a ser contraparente
da nora que nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d´água
pra me contar as histórias
que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora para Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
de impedir a concepção
tem telefone automático
tem alcalóide à vontade
tem prostitutas bonitas
para a gente namorar.
E quando eu estiver mais triste
mas triste de não ter jeito
quando de noite me der
vontade de me matar
lá sou amigo do rei
terei a mulher que quero
na cama que escolherei
Vou-me embora para Pasárgada.
Manuel Bandeira
Indo Para Califórnia
Gastei meus dias com uma mulher indelicada,
Fumei meus bagulhos e bebi todo meu vinho.
Decidi fazer um novo começo,
Indo para a Califórnia com uma dor no meu coração.
Alguém me disse que há uma garota por lá
Com amor em seus olhos e flores em seu cabelo.
Arrisquei minhas chances em um grande avião a jato,
Nunca os deixe dizer que elas são todas iguais.
O mar estava vermelho e o céu estava cinza,
Eu me perguntava como o amanhã poderia seguir o hoje.
As montanhas e os canyons começaram a tremer e sacudir
Conforme as crianças do sol começavam a despertar
Parece que a ira dos Deuses
Tomou um soco no nariz e começou a sangrar
Acho que talvez eu esteja afundando
Me jogue uma corda, se eu alcançá-la a tempo
Eu te encontrarei lá em cima onde o caminho
Segue reto e pro alto
Encontrar uma rainha sem um rei
Dizem que ela toca violão e chora e canta la la la
Monto uma égua branca nas pegadas da alvorada
Tentando encontrar uma mulher que nunca, nunca, nunca nasceu
De pé em uma colina na minha montanha de sonhos
Dizendo a mim mesmo que isso não é tão difícil, difícil, difícil quanto parece
Composição: Jimmy Page / Robert Plant
Bem, o resto é com vocês. That´s all, folks.
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